O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, apresentou hoje uma contraproposta ao governo federal para o fim da sua greve de fome, que completa hoje 21 dias.
O documento, de oito itens, mantém a reivindicação inicial de retirada das tropas do Exército do canteiro de obras da transposição -soldados trabalham na fase inicial do projeto-, mas admite a captação e distribuição de água do rio São Francisco para consumo humano e animal.
Internamente, Cappio e seu grupo avaliam que dificilmente o governo concordará integralmente com a proposta, que, na prática, inviabiliza a transposição. Mas dizem acreditar que ela é politicamente necessária para evitar a imagem de radicalismo do bispo que, afirmam, vinha sendo trabalhada pelo governo.
Em sua proposta, Cappio não fala mais em arquivamento do projeto como condição para o fim do jejum, mas em "manter a suspensão das obras iniciadas" por prazo não definido.
Em compensação, ele exige a substituição do canal da transposição que abasteceria Pernambuco e Paraíba por uma rede de adutoras, e a redução do volume de água captado, de 28 mil litros por segundo para 9.000 litros por segundo.
Esse volume é considerado pelo bispo e pelos movimentos sociais que subscrevem a nota como suficiente para atendimento humano e animal nas regiões mais críticas do semi-árido de PE e da PB.
Cappio também quer que o governo federal implemente as 530 obras hídricas previstas no Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água, da ANA (Agência Nacional de Águas). Os projetos, afirma, beneficiariam 34 milhões de pessoas. A transposição, segundo o governo, atenderia 12 milhões de nordestinos.
A proposta prevê ainda a difusão de tecnologias de captação, armazenamento e manejo de água em comunidades camponesas e a implementação de programas de revitalização das bacias hidrográficas do São Francisco e dos rios Jaquaribe (CE), Piranhas-Açu (PB-RN) e Parnaíba (PI-MA), além de rios temporários do sertão.
