Há décadas Mossoró comemora a Festa da Liberdade. O evento constitui celebrações de momentos históricos vivenciados pela cidade que a caracterizam e remontam no imaginário do povo mossoroense até hoje.
Em 30 de setembro de 1883, Mossoró libertou seus escravos. Fato pioneiro no Rio Grande do Norte, pois a Lei Áurea, norma que obrigava a abolição dos escravos em todo o País, só foi decretada em 1888.
De acordo com o professor-mestre em História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Emanuel Pereira Braz, Mossoró foi a sexta cidade do Brasil a libertar seus escravos neste mesmo ano. "As cinco primeiras foram do Estado do Ceará - Acarapi (hoje, Redenção), Baturité e Icó, Maranguape e Fortaleza - nesta ordem", afirma.
Inicialmente, no imaginário popular existia a idéia de que Mossoró teria sido a primeira cidade do País a abolir seus escravos. No entanto, pesquisas em registros históricos comprovam que isso não é verdade. O professor explica que essa concepção deveu-se à construção da história da cidade pelos políticos na época. Em 1948, começaram a querer engrandecer a cidade, criando artifícios no intuito de alcançar tal objetivo.
"Nessa década, foram distribuídas em Mossoró 98 placas em homenagem aos abolicionistas. Mas, na cidade, segundo registros de Câmara Cascudo, só existiam 40 escravos. Criou-se, no espaço urbano, uma visibilidade para que as pessoas acreditassem realmente nisso", afirma Emanuel Braz.
Por toda a Mossoró pode-se perceber como um fato histórico trabalhado num âmbito social é forte, tornando-se quase um dogma. Para isso, basta ver os nomes das ruas, bairros (Abolição), edifícios (Shopping Liberdade) que remetem ao fenômeno. Segundo o pesquisador, nomear esses lugares não foi por acaso. "Desde o início existia a intenção de valorização do fato na memória das pessoas. E até hoje isso ainda é muito forte. Destruir a idéia de pioneirismo na cabeça das pessoas é muito complexo. Já é uma crença estabelecida", relata.
A Festa da Liberdade é a maior comemoração da cidade, visto que exalta a cultura e lembra a história do seu povo. Os festejos começaram com o Seminário Novas Liberdades, um ciclo de palestras, debates, apresentações culturais e lançamentos de livros, por meio do qual são realizadas reflexões sobre o significado de uma questão fundamental: o que é ser livre hoje?
Além disso, a festa comporta o Auto da Liberdade, um espetáculo teatral ao ar livre, e o Cortejo Cultural, evento realizado na noite de hoje que constitui um desfile pelas ruas da cidade. Após o espetáculo, o mossoroense tem ainda a opção de terminar a noite ao som de bandas locais e nacionais, que se revezam no palco deixando os mais variados estilos e ritmos musicais.
LEILANE ANDRADE
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